Estamos vivendo em uma era digital marcada por interações constantes, um excesso de conectividade e um fluxo acelerado de informações que, muitas vezes, não damos conta de processá-las. As redes sociais, como Instagram, Facebook e TikTok, fazem parte do cotidiano das pessoas, de crianças até idosos. No entanto, a pergunta que surge para nós é: quais são os efeitos dessa hiperconexão em nossa saúde mental? O uso excessivo das redes sociais pode, de fato, contribui em nosso adoecimento psíquico? Se sim, quais são os processos psicológicos envolvidos? Diversos estudos científicos e psicólogos, como Christian Dunker, têm analisado as consequências do uso excessivo de redes sociais na saúde mental, um fenômeno bastante complexo e que precisa ser discutido abertamente.
A BUSCA FRENÉTICA POR VALIDAÇÃO
Segundo o psicanalista e psicólogo Christian Dunker, as redes sociais criam uma dinâmica de “vitrinização” da vida, onde as pessoas se sentem interpeladas/forçadas a exibir uma versão editada e polida de si mesmas. Ele explica que esse fenômeno pode causar uma desconexão entre a identidade real e a identidade idealizada, contribuindo para uma insatisfação pessoal consigo mesmo, que produz alterações no humor, como: baixa autoestima, ansiedade e tristeza, podendo se manter por longos períodos.
Em entrevista ao Jornal Nexo, Dunker afirma que “as redes sociais funcionam como um espaço de validação constante, mas essa validação é instável, pois depende muito de likes e interações momentâneas, gerando ansiedade e insegurança”. Há milhares de pessoas que ficam reféns de validação das pessoas que utilizam as redes sociais, para se sentirem reconhecidas e valorizadas.
Existe, principalmente entre os adolescentes e adultos, uma busca incessante por validação e reconhecimento através de curtidas, comentários e compartilhamentos. Esse sistema de recompensas instantâneas é um fenômeno viciante, toda vez que o usuário recebe uma interação positiva, ocorre a liberação de dopamina, que é um neurotransmissor relacionado ao prazer. No entanto, essa gratificação é efêmera e, quando não é alcançada, pode resultar em sentimentos de rejeição, frustração e baixa autoestima. Ou seja, cria-se uma dependência tecnológica que pode gerar um ciclo vicioso.
A COMPARAÇÃO EXCESSIVA NAS REDES SOCIAIS É UMA FONTE DE SOFRIMENTO
A psicóloga Jean Twenge, especialista em comportamento digital, em seu estudo sobre os efeitos das redes sociais, aponta que adolescentes, constantemente, se comparam com os padrões ideais de beleza e sucesso nas redes sociais, o que fragiliza a autoestima e o seu valor pessoal.
A comparação social é um processo é natural, mas pode se tornar prejudicial quando ocorre de forma excessiva. A Teoria da Comparação Social, proposta por Leon Festinger em 1954, explica que os indivíduos tendem a se comparar para avaliar suas próprias habilidades, sucesso, aparência e valor social. Antes das redes sociais, as comparações sociais eram feitas com pessoas próximas ou pessoas da TV. Nas redes sociais, este fenômeno se intensificou drasticamente, em termos de frequência, já que a comparação está mais acessível, ou seja, está nas telas dos celulares.
O BOMBARDEIO DE INFORMAÇÕES NAS REDES SOCIAIS CAUSAM O ESGOTAMENTO EMOCIONAL
O psicanalista Dunker descreve isso como uma “superestimulação emocional” contínua. Ele ressalta que “a mente não está adaptada para lidar com tantos estímulos simultâneos e de maneira tão rápida. O resultado disso é uma sensação de fadiga mental e emocional, que pode facilmente evoluir para quadros de ansiedade grave”
Segundo Dunker, “o bombardeio constante de notícias, notificações e atualizações leva a uma fragmentação do pensamento, prejudicando a capacidade de manter a atenção em uma tarefa por um longo período”. Isso gera um impacto direto no desempenho acadêmico e profissional, e em nosso bem estar emocional.
COMO ENCONTRAR UM EQUILÍBRIO NO USO DAS REDES SOCIAIS?
Diante desse cenário, é fundamental traçar estratégias para o uso saudável das redes sociais, preservar a saúde mental e evitar sofrimentos emocionais, como angustia, ansiedade, falta de sono e tristeza. Aqui está algumas dicas práticas:
- Estabeleça limites de tempo: defina limites específicos para utilizar as redes sociais. Isso pode ajudar a evitar o uso excessivo. Eu, por exemplo, defini uma hora por dia. E você, definiria quanto tempo de uso por dia? No instagram, existe uma configuração de gerenciamento de tempo de uso, que lhe notifica caso você extrapole a meta de tempo que você estabeleceu.
- Antes de dormir, evite a conexão: Evite o uso usar o celular pelo menos uma hora antes de dormir pode melhorar a qualidade do sono.
- Nem tudo que reluz é ouro: lembre-se deste ditado popular caso você tenha o costume de se comparar com a vida de outras pessoas; pessoas que você julga serem modelos ou padrões ideias. Vidas editadas não revelam a complexidade, a vida real e nem o estado emocional delas.
- Tenha interesse em outras atividades: Estar consciente dos efeitos negativos das redes sociais em sua saúde mental, é um ponto de partida para você investir o seu tempo e energia em outras atividades. Eu adoro ler, estudar, tocar violão e assistir filmes. E, você, o que lhe dá energia vital?
CONCLUSÃO
É natural a sensação de angústia e ansiedade, caso você coloque em prática estas estratégias. Esteja aberto a esta experiência, lembre-se que a diminuição das redes sociais contribui em vários benefícios em sua saúde mental, que são: o aumento da capacidade de atenção, aprendizagem, melhora na autoestima, e no humor e nos relacionamentos sociais e familiares.
As redes sociais, embora possam ser ferramentas poderosas de conexão e informação, têm um impacto significativo na saúde mental, especialmente quando usadas em excesso. O aumento da ansiedade, depressão e insatisfação pessoal são consequências diretas desse uso exacerbado. Christian Dunker, entre outros especialistas, destaca a necessidade de uso das redes sociais de modo consciente e equilibrada, onde as pessoas possam desfrutar dos benefícios da conectividade sem comprometer sua saúde emocional. Sendo assim, podemos pensar sobre formas de nos desconectarmos digitalmente e nos reconectarmos conosco, pode ser um caminho para preservarmos a nossa saúde mental na era digital.
BIBLIOGRAFIA:
Festinger, L. (1954). Uma teoria dos processos de comparação social. Human Relations 117–140.
Dunker, C. (2019). Entrevista ao Jornal Nexo sobre o Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental
TWENGE, Jean M.; MARTIN, Gabrielle N.; SPITZBERG, Brian H. Trends in U.S. Adolescents’ media use, 1976–2016: The rise of digital media, the decline of TV, and the (near) demise of print. Psychology of Popular Media Culture, v. 8, n. 4, p. 329-345, 2019.
Por Túlio Almeida S. Figueiredo. Psicólogo Clínico (CRP-03/8824) na SAMEC, atua há 14 anos como psicoterapeuta, é especialista em Saúde Mental Coletiva (Ruy Barbosa), Mestrando no PPGNEIM/UFBA. Há cinco anos facilita rodas de Terapia Comunitária com o objetivo de promover saúde mental, em Quijingue/BA. Instragram – @psi_tulioalmeida